segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Despedidas

Hoje foi dia de despedidas.

Dentro do ambiente familiar não me considero um elemento exemplar. Coloco-me sempre à margem de todos os acontecimentos, sou sempre o último a saber de notícias e não primo pelo interesse ou preocupação pelo resto da família. Considero que talvez até tenha uma família relativamente unida, tendo em conta o panorama de outras famílias, mas confesso que me mete confusão só ver tios e primos em momentos menos felizes (hospitais e funerais), mas costumam dizer que as pessoas realmente importantes surgem nestes momentos.

Também nunca imaginei ter alguém emigrante na família. As visitas a Portugal são por períodos temporais contados… e os dias organizam-se por visitas a familiares e amigos. O tempo que se está por casa quase não chega para matar saudades e quando se dá conta é hora de voltar para de onde se veio.

Se rapidamente nos habituamos a pôr mais um prato na mesa porque está cá mais um elemento da família, na hora da despedida é mais difícil voltar a não pôr o tal prato. Se rapidamente recordamos um passado próximo em que vemos o quarto em frente à porta ocupado por aquela pessoa, é difícil voltar a ver aquele quarto vazio quando a pessoa vai embora… mas temos que nos habituar (novamente) e conformar.

Hoje foi dia de despedidas.

E embora seja um elemento “ausente” e distraído desta família, foi engraçado perceber e sentir as despedidas. Hoje foi dia de escola, foi dia de trabalho, foi dia de tarefas diárias; mas cada pessoa, à sua maneira aproveitou o dia ou a véspera para se despedir do viajante. Todos e cada um de nós arranjou um tempinho para se despedir, mesmo quem não se despediu, pois por vezes basta sentir a despedida do que fazê-la. É engraçado sentir esta família, ver a sua preocupação e a sua maneira de agir. É engraçado saber que temos um pouquinho de cada um de nós dentro de nós próprios, que nos une, que faz com que desejemos que o próximo esteja bem e que fique bem.

Hoje foi dia de despedidas.

E passei parte da tarde no Aeroporto da Portela. Em conversas finais, a falar da família, a recordar as “férias de Natal” e os momentos em família. A ver a tia a ser forte e a aproveitar os últimos momentos com a filha, a falar de assuntos banais e a desejar parar o tempo que não pára.

O aeroporto estava repleto de famílias que se despediam, que aproveitavam os seus últimos momentos juntos. A atmosfera era composta por uma alegria triste (se é que isto existe), por uma união e força familiar que dava todo um ar e ambiente natalício aquele lugar.

Apercebo-me que Portugal continua a ser o país de emigrantes que sempre foi e penso que nunca chegará o momento em que o deixará de o ser… a sorte é que com a Era da globalização um adeus naquele aeroporto será muitas vezes (e felizmente) um até já na maior parte dos casos.

Hoje foi dia de despedidas.

E a tia dizia-me, já no regresso a casa, que ia ter de se habituar novamente a pôr menos um prato na mesa, e a não ver a cara da filha lá por casa nos próximos tempos. A contagem decrescente para o regresso começou automaticamente a ser feita na hora em que o avião levantou voo.

Life goes on….

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