Ele pergunta-se: “Por que é que ela é assim?”; “Porque age com ele desta maneira?”; “Porque exige tanto dele?”
Ele sabe que ela teve um passado complicado com o seu próprio pai. Ele sabe que eles tinham personalidades semelhantes, que chocavam muito entre si, tantas vezes… Ele sabe que eles os dois são semelhantes, o mesmo feitio, o mesmo orgulho, a mesma casmurrice, mas com diferentes pontos de vista, reflexo de uma geração que os separa… tal e qual como ela e o seu pai.
Mas mesmo assim, ele não percebe por que é que ela é assim… por que é que ela o espezinha, o desmotiva, o prende e é tão negativa.
Ele não percebe a incapacidade de ela o elogiar, ele não percebe por que é que ela planta apenas tempestades, porque o compara aos outros, o faz sentir inferior, menor, insignificante… ele não percebe por que é que ela não o elogia nas suas lutas diárias, nas suas conquistas, não percebe porque ela não lhe dá uma palmadinha nas costas, porque não diz que o ama, que o adora, que tem orgulho nele… um sorriso, um abraço, uma mão amiga…. Ele não percebe.
Toda a vida se habituou a ser menos que os outros, a ser menor, à desvalorização dos seus actos, das suas conquistas, toda a vida se sentiu inseguro, age inseguro, é inseguro! Toda a vida aprendeu a se calar, a se fechar, a viver a sua vida isolado, dentro de si próprio, a procurar segurança em si mesmo, de fora para dentro; aprendeu a viver na corda bamba, na sua vida repleta de abismos, de medos, de fragilidades, de receios e de criticas.
Ela quer apenas protege-lo, protege-lo deste mundo cruel e frio, deste mundo que não dá hipóteses aos mais fracos. Ela quer que ele seja forte…
Ela dá-lhe tudo, tudo o que ele precisa, tudo aquilo que ela não teve direito. Também ela sofreu quando era nova. Também ela lutou pela sua liberdade, também ela conquistou o seu mundo. Também foram frios com ela, também a queriam proteger, mas ela conseguiu…
O que ela não vê, é que esta a fazer com ele(s) o que fizeram com ela. O que ela não vê é que ela odiou o que lhe fizeram e está a fazer com que ele(s) também odeie(m) o que está a acontecer.
Mas ele sabe, agora sabe, que tudo isto é um reflexo dos fantasmas dela. Ele sabe que ninguém lhe ensinou o papel que ela está a desempenhar. Resta desejar que um dia ela venha a ter consciência da importância deste papel, desta estranha forma de amar, que aí, transforme os espinhos em flores, os fantasmas em amigos, as exigências em conselhos.
Pessoalmente, espero que ele consiga um dia falar com ela e transformar a sua raiva em amor… isto antes de ir embora, claro… antes que seja tarde demais, se já não o é!